-Durante as operações militares que derrubaram o governo de Marcelo Caetano, o povo de Lisboa saiu à rua, mesmo sem ter ainda percebido o rumo do golpe, em rigor nem sequer o sucesso do mesmo, farto que estava do regime, qualquer outra coisa só poderia ser melhor. Logo no próprio dia a constituição da Junta de Salvação Nacional mostrou as contradições insanáveis que haveriam de conduzir Portugal a dois anos desastrosos, dos quais apenas conseguimos recuperar decorrida mais de uma década. A liberdade foi o primeiro valor a ser conquistado, mas foram anunciadas algumas intenções como democratizar, descolonizar e desenvolver, que passariam à História como os 3 D's. A descolonização, o primeiro dos objectivos cumpridos foi um total desastre, com as antigas colónias a serem entregues a partidos marxistas que resultaram em regimes déspotas, não existindo hoje um único que possa ser apontado como verdadeiro exemplo de sucesso, por culpa dos governantes africanos é certo, mas também da forma como o processo foi conduzido em Portugal, que não assegurou eleições livres em nenhum dos territórios. A Democracia tem vindo a sofrer uma evolução ao longo das décadas, é impossível comparar o país em que vivemos com o Portugal atrasado de 1974, mesmo os críticos do actual governo, entre os quais me incluo, não se podem esquecer que na altura a crítica pura e simplesmente não existia. Hoje a questão está longe de ser democratizar, e sim procurar o seu aperfeiçoamento, que está longe de ser uma realidade na Justiça e na Educação, a classe política não goza de grande credibilidade na opinião pública, o desenvolvimento passados 35 anos está longe de poder ser considerado um objectivo atingido, agravado pela conjuntura que atravessamos, para a qual o Presidente da República fez hoje no seu discurso uma chamada de atenção que deverá ser ouvida e levada em consideração pelos partidos.