-Para falar do partido da verdade convém não deturpar os factos, começo por admitir que atingiu dois objectivos, conquistar a maioria das presidências de câmaras municipais e juntas de freguesia, e foi apenas isso que conseguiu enquanto partido. Onde a líder teve poder para impor candidaturas o PSD perdeu, Leiria, Figueira da Foz ou Lisboa, as vitórias esmagadoras em Gaia, Porto, Santarém ou Sintra, a conquista de Faro são mérito dos autarcas, cujo prestígio junto das populações ultrapassa em muito o de Manuela Ferreira Leite. Entre ganhos e perdas o PSD ficou sem 19 autarquias, julgo que todas elas sem coligação, perdeu cerca de 70 mandatos, onde não concorreu coligado desceu a votação em cerca de 250 mil votos. Percebi agora o alcance das palavras de MFL sobre a Madeira, onde o PSD-M obteve uma vitória albanesa, ganhando 11 em 11 câmaras e 49 em 54 juntas de freguesia, realmente por lá não existe falta de democracia nem asfixia, apenas costuma faltar o ar a quem tenta fazer voar um zeppelin. O pior cego nunca é aquele que não vê, mas o que não quer ver, Manuela Ferreira Leite tem inteira legitimidade para permanecer na liderança do PSD, mas politicamente está morta, cabe à própria e sua direcção decidirem, querem afundar mais o partido, ou incapazes de comandar o navio permitem que outros tomem o leme?
-O PS foi sem margem para dúvida um dos vencedores das eleições. É certo que perdeu as apostas Elisa Ferreira, que volta à gamela de Bruxelas e Ana Gomes, também ficou sem Faro e Espinho, mas ganhou duas capitais de Distrito, Leiria e Beja, para além de autarquias simbólicas como Barcelos, Castelo de Paiva, Figueira da Foz, Marinha Grande ou Tavira entre outras, no total entre perdas e ganhos o balanço foi favorável aos socialistas em 22. Também assinalável o crescimento em cerca de 150 mil votos e 70 mandatos. Destaque ainda para a conquista da maioria absoluta em Lisboa.
-A CDU foi outro dos derrotados nas eleições de ontem, vitórias em Alpiarça, Alvito e Crato são manifestamente insuficientes para compensar a perda de Beja, Marinha Grande, Sines, Aljustrel, Viana do Alentejo, Vila Viçosa e Monforte. Os comunistas também recuaram cerca de 50 mil votos, o que deita por terra o tradicional argumento do reforço da votação na CDU. Apenas a península de Setúbal se mantém firme como último reduto desta força política, que igualou em número de autarquias o seu pior resultado histórico obtido em 2001, perdendo cerca de 25 mandatos na comparação com 2005.
-O CDS/PP obteve um fraco resultado nesta eleição, manteve a sua única autarquia, cresceu 5 mil votos comparativamente a 2005, mas apenas igualou o número de mandatos obtidos em lista própria, o que veio de alguma forma esvaziar o entusiasmo resultante das legislativas. É certo que contribuiu decisivamente para algumas vitórias em coligação com o PSD, mas na hora da vitória poucos foram os que relembraram tal facto, de Manuela Ferreira Leite nem uma palavra na hora de cantar vitória, até mesmo alguns autarcas eleitos parecem ter esquecido os companheiros de percurso. Para cúmulo o acordo de 80/20 parece hoje totalmente desajustado ao peso efectivo dos partidos, pelo que a sua revisão terá necessariamente de ser negociada, o interesse é mútuo, se é verdade por um lado que o CDS/PP não tem grande implantação autárquica, por outro sem coligação o PSD perderá um número considerável de importantes municípios. Não sendo justo falar em derrota, fica a sensação que o partido poderia e deveria ter ido mais além.
-O BE falhou completamente os seus objectivos nas eleições autárquicas, pretendia eleger vereadores em Lisboa e Porto e não conseguiu, cresceu pouco mais de 8 mil votos para pouco mais de 167 mil, quando tinha obtido 382 mil nas Europeias e 558 mil nas legislativas, aumentando o número de mandatos em apenas 2, passando de 7 para 9.