-No momento em que o país debate a questão da avaliação dos professores, e de forma mais ampla o próprio sistema de ensino, considero lamentável que alguns selvagens, sejam quem forem, independentemente das razões que possam invocar, procurem agredir a ministra da educação Maria de Lurdes Rodrigues, a quem presto a minha solidariedade quanto ao episódio hoje ocorrido em Fafe, digno de primitivos que à falta de argumentos partem para a ignorância. Mas nestas questões da avaliação, o populismo e ignorância não ficam por aqui, talvez procurando desviar atenções do mais elementar desrespeito pela normalidade constitucional, e do funcionamento das instituições como a Assembleia Legislativa Regional, factos que o país pôde comprovar na passada semana, o presidente do governo da região autónoma da Madeira decidiu por portaria avaliar todos os professores com a atribuição de "Bom". Populismo e demagogia ao pior nível que este país é capaz de produzir.

     -O governo mostra alguns sinais de desorientação perante os protestos, anunciando que algumas das consequências da avaliação apenas produzirão efeito daqui a 4 anos. Mau caminho o que o governo escolhe, se avaliação é de facto boa deve persistir na sua aplicação, de contrário é revê-la e aperfeiçoá-la, mas nunca atirá-la para as calendas. Por este andar ainda assistiremos ao continuar da progressão automática nas carreiras, o pior dos cancros na administração pública em Portugal ao longo das últimas décadas.

Confesso que me chocou profundamente a inflexibilidade da Ministra e o modo como se referiu à manifestação, por ela considerada como forma de intimidação ou chantagem, numa linguagem imprópria de um titular da pasta da educação e incompatível com uma cultura democrática.
 

Confesso ainda que, tendo nascido em 1936 e tendo passado a lutar pela liberdade de expressão e contra o medo, estou farto de pulsões e tiques autoritários, assim como de aqueles que não têm dúvidas, nunca se enganam, e pensam que podem tudo contra todos.
 

(Excerto retirado do editorial da revista OPS, assinado por Manuel Alegre)

      -Manuel Alegre atira mais lenha para o fogo da educação, não se colocando expressamente em oposição à avaliação dos professores, demarca-se claramente da ministra, e nas entrelinhas interpreto algumas críticas ao governo e até ao Partido Socialista. Convém relembrar que ainda na passada semana o deputado votou contra a proposta de alteração do Código do Trabalho. O PS vai conseguindo disfarçar as divisões internas pelo facto de ocupar o poder, estarmos em ano pré-eleitoral, e muitos quererem assegurar o seu lugar no próximo ano, mas torna-se cada vez mais evidente que não existe consenso nas grandes linhas de orientação definidas pela direcção do partido, só que poucos têm a coragem e o estatuto de Manuel Alegre para poderem dizer o que lhes vai na alma.