-A câmara de Representantes acaba de rejeitar o plano Bush, graças ao voto contra da maioria dos membros do Partido Republicano. Dificuldades acrescidas para a candidatura de John McCain, mas convém relembrar que os congressistas também vão a votos, possuem a sua própria agenda, e a intervenção socialista do Estado na economia, conferindo amplos poderes à Administração, não é bem aceite pelo eleitorado tradicional Republicano. Será de esperar nos próximos dias a apresentação dum novo plano, negociações intensas com os Democratas, mas convém primeiro que o Partido Republicano arrume a sua própria casa, para evitar sofrer consecutivas derrotas internas. A bolsa de Nova Iorque sofreu já queda acentuada, sendo previsível igual comportamento amanhã das congéneres europeias.
-Apesar da intervenção socialista do governo norte-americano, a par de alguns congéneres europeus, os mercados reagem com desconfiança, registando-se perdas consideráveis em Nova Iorque, e um pouco por toda a Europa, Lisboa não constitui excepção. Convém relembrar que o acordo alcançado no Congresso prevê a entrada do Estado no capital das empresas auxiliadas, impossibilidade de pagamento de prémios ou indemnizações elevadas aos gestores, entre outras medidas de salvaguarda. Veremos onde nos conduzirá esta crise do sistema financeiro, quantas mais empresas enfrentarão o colapso, quais poderão sobreviver, e se algumas acabarão por encerrar portas. Isto ainda agora começou.
-Tenho manifestado a minha preferência por Barack Obama, mas isto mete nojo, gostaria de ver o Partido Democrata, em particular o senador do Illinois repudiarem esta estupidez.
-Não conhecer pormenores da política austríaca, impede-me de tecer grandes comentários, mas lá como cá, ou em qualquer outro país, quando os partidos mais representativos desiludem, governando de costas voltadas para as aspirações da população, estão criadas as condições para votações significativas dos partidos extremistas, sejam eles de esquerda ou direita. O resultado das eleições na Áustria deverá servir como aviso à classe política um pouco por toda a Europa, incluindo naturalmente Portugal, para que um dia não acorde forçadamente para uma realidade que julgava não existir, mas que vai fermentando na insatisfação perante a falta de respostas aos reais problemas das pessoas, como por exemplo a insegurança face ao aumento da criminalidade.
-As falências são um instrumento de auto-regulação do mercado, excluindo quem está a mais, ou pratica gestão ruinosa. O governo norte-americano optou por injectar 700 mil milhões de dólares no sistema financeiro, salvando por agora do colapso algumas empresas em detrimento de outras, veremos quanto dinheiro será ainda necessário, porque outras empresas poderão vir a ter o mesmo destino. Numa primeira reacção o congresso impediu tal solução, mas após a inclusão de mais regras no sentido de regulação mais apertada, o acordo parece alcançado. Na Europa como seria de esperar, iremos assistir a mais do mesmo, o grupo Fortis é salvo através de nacionalização parcial por parte dos governos da Holanda, Bélgica e Luxemburgo, enquanto no Reino Unido, o Bradford & Bingley é intervencionado pelo governo de Gordon Brown que fica na posse dos activos de maior risco, vendendo a rede de balcões aos espanhois do Santander. Premiando os maus gestores, enviando sinais que podem correr riscos desnecessários na mira do lucro fácil, se alcançarem o sucesso serão elevados ao estatuto de gurus financeiros, em caso de fracasso podem sempre contar com a protecção dos governos, não será dificil de prever que esta triste história está bem longe do fim, na realidade ainda agora começou.
